Afonso Chaves é o novo presidente da associação que ajudou a construir
O ano é 1998 e o engenheiro civil Afonso Chaves e mais um grupo de amigos estão preocupados com a favelização do Bosque Marapendi. As áreas usadas pela construtora Encol como canteiro de obras começam a servir como abrigo para moradores de rua. De prédio em prédio, o grupo consegue convencer todos os síndicos da região a transformar os espaços em áreas de lazer para a comunidade, com a contribuição financeira de cada unidade residencial.
Nascia assim a maior associação de bairros do Rio de Janeiro em número de associados e contribuintes – a ABM (Associação do Bosque Marapendi). Em 2002, Afonso assume a presidência da associação. Ao deixar o cargo, sai pelo Brasil a fora para focar na sua profissão: a construção de pontes e prédios.
Dezenove anos depois ele está de volta. Junta outro grupo de moradores, dessa vez, para retomar o comando da nave que ajudou a construir. Atropela as chapas favoritas que concorriam na eleição e acaba de ser eleito mais uma vez o presidente da ABM. Emocionado com o retorno, ele revê funcionários antigos, senta na sua cadeira e recebe a equipe da Folha para um papo. A ABM mudou, o mundo mudou, mas Afonso continua cheio de sonhos.
Abandono e silêncio ensurdecedor
Afonso diz que o entorno da ABM foi abandonado pela prefeitura. “O Crivella foi o único prefeito que não deu atenção pra gente”, reclama. “O silêncio da prefeitura é ensurdecedor. Os galhos das árvores da rua da sede da associação, a Afonso Arinos de Melo Franco, estão batendo no para-brisa dos nossos ônibus. Solicitamos diversas vezes a poda e não obtivemos resposta”, comenta. “Acho que o atual prefeito imagina que aqui seja reduto do Eduardo Paes e isola a região. De fato, foi o Paes que autorizou, em 1997, a construção dessas áreas de lazer”, recorda.
Com a pandemia, a frota de 23 ônibus da empresa Vênus, que atende a associação, caiu para nove. O contrato com a empresa, entretanto, não foi renegociado. “Só vence no ano que vem, mas não sei por que não foi revisto ainda. Vamos correr com isso. É preciso haver uma flexibilização e um contrato baseado na pandemia. Além do desemprego, tem muita gente fazendo home office atualmente”, justifica.
Segundo o novo presidente, a essência da ABM foi deixada para trás. “Estava tomando um rumo de clube. Os torneios entre os condomínios, porteiros, foram sendo esquecidos. Abandonaram a essência da associação, que era a de unir os moradores. A nossa maior receita não vem de publicidade e sim de torres de telefonia. Ou seja, existem outras formas de ser comercial”, critica. “Com tanto espaço, é inadmissível a ABM não ter um centro cultural, por exemplo. Vai ser a nossa prioridade”, promete.
Para fazer valer o lema de sua chapa vencedora (“Compromisso com o futuro”), quer implantar energia solar e iluminação de led em toda a associação para reduzir os custos; pretende fazer com que a marcação das quadras seja online; vai investir na reciclagem de funcionários e quer implantar um projeto de compostagem, onde as folhas que caem viram adubo para o próprio Bosque.
“Hoje, temos uma despesa significativa para retirar essas folhas e deixar o local limpo”, explica ele, que reclama também do péssimo estado de conservação das quadras esportivas.
“Se eu sair daqui e deixas todas elas em condições de uso já me dou por satisfeito”, completa Afonso, que tinha 41 anos quando fundou a ABM.
“Vinte e dois anos depois tenho a mesma sensação de um filho que saiu de casa e retorna para o ambiente familiar”, finaliza.
Parceria antiga
Na chegada do nosso time para esse bate-papo, Afonso brincou com as lentes dos repórteres fingindo estender um tapete vermelho para a nossa equipe. Um time que ele viu nascer junto com a associação, em 1998, e cujo primeiro exemplar do jornal impresso tem guardado até hoje.
“Encontrei revirando as gavetas. Parecia um urubu”, brincou com a capa preta do primeiro jornal do Bosque e após receber a edição da Folha de 22 anos. A parceria antiga está de volta!
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