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Quando o luto se torna uma doença

Naturalmente vivenciado após uma perda, o luto pode representar um risco à saúde quando se manifesta de forma muito intensa

Erika Pallottino e o livro lançado no último dia 3 de abril
Erika Pallottino e o livro lançado no último dia 3 de abril

O luto é uma reação humana normal frente ao rompimento de um vínculo significativo. A perda de um ente querido, um animal de estimação ou um emprego, divórcio, mudança de cidade ou país, são exemplos de situações que enlutam uma pessoa.


Fatores como o tipo de perda, personalidade, crenças religiosas e culturais de cada um fazem com que o luto seja individual e único. Mas é comum as pessoas apresentarem reações características de resposta como insônia ou muito sono, perda do apetite ou alimentação em excesso, sofrimento frente às memórias positivas ou sentimento de culpa, ruminação etc.


Felizmente, com o tempo e com a ajuda de amigos e família, os sintomas mais agudos tendem a arrefecer até a pessoa fazer reajustes na vida, assumir novos papeis, construir novos vínculos e se adaptar à perda. O problema é quando isso não acontece.

“Quando essa adaptação à perda não existe, quando os sintomas agudos pioram conforme o tempo passa, a pessoa desenvolve o transtorno de luto prolongado - TLP, que é um processo de adoecimento”, afirma a psicóloga com mais de 20 anos de experiência especializada no tratamento do luto grave e suas complicações, Erika Pallottino.


Embora essa condição atinja uma minoria das pessoas enlutadas, aproximadamente 10%, a gravidade dos sintomas é muito preocupante.


“O desejo da pessoa que tem TLP é se reencontrar com quem ela perdeu. É um quadro muito severo e muito agudo onde há riscos para a saúde mental com desfechos muito ruins, como ideação suicida, o próprio suicídio, além da deficiência no cuidado com a saúde. Essa pessoa acaba desenvolvendo doenças autoimunes porque o autocuidado fica muito ineficiente. Ela tem, inclusive, um risco maior de sofrer um ataque cardíaco “, completa Erika.


Em 2022 a Organização Mundial da Saúde (OMS), incluiu o transtorno de luto prolongado na Classificação Internacional de Doenças (CID-11) reconhecendo-o como um transtorno mental. “E desde janeiro de 2025 começou a ser utilizado no Brasil. Isso é muito importante porque, durante muito tempo, e ainda hoje, por uma falta de educação e de conhecimento técnico, muitos enlutados eram diagnosticados como depressivos e não é depressão.

”Erika ressalta sobre o diagnóstico e tratamento: “É necessário uma avaliação especializada e um trabalho multidisciplinar, com psiquiatras em conjunto, com psicólogos especialistas em luto. E esse é o trabalho que a gente desenvolve no Entrelaços”.


O Instituto Entrelaços é um centro de referência no acolhimento a enlutados e na formação de profissionais da área. Fundado por Erika e a também pela sócia, a psicóloga Cecília Rezende, em 2012, o Entrelaços vem desempenhando um papel fundamental na qualificação do suporte ao luto no Brasil.

Erika e Cecília, ao longo dos últimos anos, buscaram capacitação internacional com algumas das maiores referências da área, como Katherine Shear (Columbia University), Holly Prigerson (Cornell University) e Alba Payàs (IPIR/Barcelona). Recentemente lançaram o livro Transtorno de Luto Prolongado: Estudos, Reflexões e Possibilidades. A obra se dedica a explorar esse campo de estudo no qual as autoras se especializaram ao longo de mais de uma década de prática clínica e pesquisa aprofundada.


O livro propõe reflexões críticas sobre a gravidade do luto quando este se torna um adoecimento. Seu objetivo é aprimorar o cuidado a enlutados que, por diferentes razões, enfrentam dificuldades para atravessar o processo de luto de maneira saudável.

Embora primariamente destinado a um público especializado, o livro pode despertar o interesse de uma gama bem mais ampla de pessoas, visto que apresenta a descrição de situações reais e debate formas de tratamento.


Saiba mais sobre o Instituto e o livro no Instagram: @entrelacospsico


Erika com os pais, Vitória e Roberto Pallottino, e a sócia, a também psicóloga Cecília Rezende, coautora do livro Transtorno de Luto Prolongado, durante o lançamento do mesmo na livraria Argumento do Leblon
Erika com os pais, Vitória e Roberto Pallottino, e a sócia, a também psicóloga Cecília Rezende, coautora do livro Transtorno de Luto Prolongado, durante o lançamento do mesmo na livraria Argumento do Leblon

 
 
 

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